quinta-feira, 23 de julho de 2020

Sob guerras, greves e furacões: as mudanças drásticas na NFL em sua história



A National Football League é uma liga centenária. Sua fundação, em 1920, foi apenas dois anos depois do fim da Primeira Guerra Mundial, e no ano em que acabou a pandemia da Gripe Espanhola. Esta senhora de 100 anos presenciou diversos acontecimentos históricos. Vivenciou guerras, desastres naturais, e outros eventos que marcaram a sua trajetória.

Indo para a estrutura da organização da NFL, ao longo deste século, as temporadas passaram por alterações. A começar ainda na década de 1930, quando finalmente decidiram criar uma final da liga, passando pela permissão da entrada de novas equipes entre os anos 1950 e 1960. E sem contar com a mudança mais importante, na fusão com a American Football League para a criação do Super Bowl, a partir de 1967, iniciando a era mais gloriosa da competição.

No entanto, nem tudo foi perfeito na história da NFL. Houve momentos em que a organização, e até mesmo algumas franquias da liga, precisaram se superar para manter a sua existência em momentos de crise. E este ano de 2020, tão atípico devido à pandemia do novo coronavírus, nos leva a crer que a temporada programada para começar em menos de dois meses, pode ser bem diferente das outras.

Por enquanto, a liga confirma o jogo de Kickoff para 10 de setembro, entre Kansas City Chiefs e Houston Texans, com a temporada regular prevista para 17 semanas e o Super Bowl LV marcado para o dia 7 de fevereiro de 2021. Porém, o país continua tendo uma média alta de novos casos e de mortes por Covid-19. Na quarta-feira, 22 de julho, mais de mil mortes voltaram a ser registradas em um único dia depois de mais de um mês de números mais baixos. Ou seja, a pandemia está longe de estar controlada em terras norte-americanas.

Já que a temporada da NFL poderá ser diferente, trazemos aqui no Left Tackle Brasil uma lista de eventos atípicos que já rondaram a história da liga, alterando seu calendário ou seu regulamento. Confira abaixo!

1932: sob a lona e sobre o estrume, um jogo valendo o título

Uma arena de hóquei no gelo sediou o jogo que definiu o campeão da NFL em 1932
Quem vê hoje a NFL como um exemplo de organização, pode não saber que a liga passou por alguns maus bocados em seus primeiros anos. Até 1932, sequer havia uma final. O campeonato de futebol americano era uma longa temporada regular desproporcional. Na temporada de 88 anos atrás, enquanto equipes como o Green Bay Packers fizeram 14 jogos, franquias como o New York Giants e Chicago Cardinals (hoje Arizona Cardinals) terminaram aquele ano com 12 e 10 partidas, respectivamente.

Sem uma pontuação específica, o campeão era definido por quem tinha a melhor porcentagem de aproveitamento de vitórias, derrotas e empates (naquela época também não havia prorrogação, então era comum um jogo terminar empatado). E nesta porcentagem, Chicago Bears e Portsmouth Spartans (hoje Detroit Lions) acabaram a temporada empatados. Então, houve a necessidade de um jogo de desempate para definir o campeão. Seria a primeira final da NFL, mesmo antes de se existir uma final da liga.

Em 18 de dezembro, diante de um dia extremamente frio, a NFL decidiu colocar o jogo em uma arena de hóquei, que dias antes havia recebido um circo. Os jogadores tiveram que jogar em um campo improvisado de 60 jardas, e com o mau cheiro de esterco dos elefantes que pisaram ali anteriormente. Neste jogo tão atípico, o Bears venceu por 9 a 0, e no ano seguinte, a liga adotou o duelo em  mata-mata para definir o campeão.

1933-1944: a guerra que uniu franquias

Hoje separados, Steelers e Eagles precisaram jogar juntos durante a Segunda Guerra Mundial

Os Estados Unidos foram parte importante na luta dos Aliados contra as Potências do Eixo na Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Como o País foi pouco afetado por combates em solo (a exceção da invasão à Pearl Harbor, no Havaí, em 1941), a NFL seguiu normalmente durante os conflitos. Mas na medida em que os atletas passaram a ser convocados para lutar na guerra, desfalcando as franquias, o Pittsburgh Steelers e o Philadelphia Eagles, ambos rivais no estado da Pennsylvania, uniram forças e, em 1943, viraram os Steagles, para garantir que sobrevivessem à guerra.

Após a campanha ter sido 5-4-1, Steelers e Eagles se separaram novamente, cabendo a Pittsburgh procurar outra parceria para sobreviver durante aquele período. Em 1944, unindo-se ao Chicago Cardinals, os dois times viraram o Card-Pitt, mas a campanha não foi bem sucedida, de dez derrotas e nenhuma vitória. Mas hoje, Steelers, Eagles e Cardinals podem contar esta história, e ainda vivos na NFL.

1982 e 1987: greves que diminuíram a temporada

A greve de 1982 permitiu a um kicker ser o MVP da temporada

Nos 100 anos de NFL, oficialmente, a liga enfrentou greves em oito oportunidades, seja por pressão dos donos das franquias, dos jogadores ou até mesmo dos árbitros, como aquela de 2012 que resultou na Fail Mary. Mas aqui serão lembradas duas paralisações que afetaram até mesmo na diminuição da temporada.

A greve de 1982 foi a maior delas. Naquele tempo, a Free Agency, a janela de transferências, não era tão badalada como hoje, e os jogadores não tinham planos de assistência médica ou aposentadoria. A NFL estava mais rica do que nunca até então, mas os lucros ficavam apenas aos proprietários das franquias, e muito pouco aos atletas. A NFLPA, o sindicato de atletas da liga, propôs a divisão de 55% dos lucros totais da NFL aos jogadores, divididos entre salários e benefícios. Como a NFL não os ouviu, coube aos atletas declarar greve. A paralisação durou oito semanas, e foi durante o que seria a temporada regular.

A liga bem que tentou negociar, mas a NFLPA não cedeu ao seu pedido. Vendo que a temporada estava ameaçada, não restou opções à NFL se não atender a reivindicação dos atletas. A greve acabou depois de 57 dias, forçando um encurtamento da temporada regular. Foram apenas nove jogos realizados por franquia, e não 16, com a fase de Playoffs reunindo 16 franquias. O ano de 1982 foi tão fora da curva que um kicker foi eleito o MVP, o atleta Mark Moseley (foto acima), do antigo Washington Redskins – agora Washington Football Team –, que seria o campeão da temporada.

Já a greve de 1987 foi menor. Foi apenas um jogo a menos naquele ano por franquia, e não alterou as estruturas da temporada. A paralisação também foi por maiores valores a serem pagos pelas franquias aos atletas, e por uma Free Agency mais bem regularizada. Por conta do movimento, duas semanas foram retiradas do calendário da NFL. E diferente de 1982, esta greve não teve a adesão total dos atletas, e quem aderiu, foi substituído por jogadores de outras ligas profissionais, como a Canadian Football League (CFL). Durando apenas 24 dias, a greve de 1987 só resultou em efeitos aos atletas no ano seguinte.

2001: o atentado que mudou a liga

Os ataques de 11 de setembro renderam homenagens ao longo da temporada de 2001, incluindo no show da banda U2, no Super Bowl XXXVI
Em 11 de setembro de 2001, o mundo entrou em choque quando ocorreu os ataques terroristas nos Estados Unidos. Dois aviões atingiram as torres do World Trade Center, em Nova York, enquanto outro avião atingiu o prédio do Pentágono, em Washington, e uma quarta aeronave caiu na Pennsylvania. Cerca de 3 mil pessoas morreram.

Por ser setembro, a NFL foi duramente afetada pelos ataques. Na véspera dos atentados, havia ocorrido o Monday Night Football da semana 1. Diante de tudo o que aconteceu, a rodada da semana 2 foi transferida para os dias 6 e 7 de janeiro. E pela primeira vez na história, o Super Bowl foi adiado para fevereiro.

Os ataques geraram uma intensa comoção em todo o país. Quando a liga voltou, não faltaram homenagens durante os jogos, principalmente no hino dos Estados Unidos. E no Super Bowl XXXVI, a banda irlandesa U2 fez o Halftime Show, exibindo em um telão os nomes de todas as vítimas enquanto se apresentavam.

2005: Saints deixa sua casa para ser a casa de milhares

O Lousiana Superdome (hoje Mercedes-Benz Superdome) recebeu milhares de desabrigados do furacão Katrina
Em agosto de 2005, o Furacão Katrina devastou o Sul dos Estados Unidos. E o local mais afetado foi Nova Orleans, quando as barragens que protegiam a cidade da invasão da água do Lago Pontchartrain se romperam, deixando 80% da cidade de baixo d'água. Mais de 1 milhão de pessoas no Estado da Louisiana foram evacuadas.

Mesmo assim, o furacão foi devastador. Somente no estado, 1577 pessoas morreram, e milhares, que não conseguiram deixar a cidade, ficaram desabrigados. Muitos destes desabrigados precisaram se alojar no estádio do New Orleans Saints, então chamado Lousiana Superdome (hoje, Mercedes-Benz Superdome).

Por ter ocorrido a um mês da temporada regular, somado à demora para remover toda a água que invadiu Nova Orleans, o Saints teve de jogar fora de casa naquele ano. Seu primeiro jogo como mandante foi no antigo Giants Stadium, a casa do New York Giants e New York Jets. O segundo, o terceiro e o último duelo "em casa" foi no Alamodome, em San Antonio (Texas). Os demais quatro jogos de mandante foram no Tiger Stadium, estes já mais próximos de Nova Orleans, na cidade de Baton Rouge (Lousiana).

O outro lado dessa história é que Nova Orleans, e o Saints, se superaram após o 2005 difícil. A cidade se reconstruiu, e a franquia também. Sean Payton, o atual técnico, chegou na equipe em 2006, assim como o quarterback Drew Brees, mudando a história da equipe.

2020: o que será a temporada da pandemia?

O novo normal da NFL vem aí
Diferente das demais grandes competições esportivas adiadas ou canceladas entre março e abril, a NFL, por estar na offseason, teve tempo para se organizar para a temporada atípica que se aproxima. Porém, a preocupação é que o número de novos casos e mortes por Covid-19 não está diminuindo nos Estados Unidos, que já estiveram no epicentro da pandemia.

Neste ano, o Draft já foi realizado de forma totalmente virtual, com os dirigentes definindo as suas escolhas direto de suas casas. A NFL continua apostando que poderá realizar os jogos com testes periódicos em jogadores, técnicos e dirigentes, assim como permitiu aos times a escolha de ter torcida em suas partidas ou não. O que já é certo é que não teremos o Hall of Fame Game, que abriria a pré-temporada, assim como serão apenas dois amistosos em agosto por equipe, e não quatro, como era anteriormente. Há a possibilidade da pré-temporada inteira não ter jogos também.

Mais importante que o futebol americano voltar, é que, se for possível dele voltar, que retorne com todas as condições sanitárias adequadas, garantindo a segurança de todos os envolvidos nos jogos, e garantindo que ninguém se infecte da Covid-19. Teremos um 2020 diferente na National Football League, e diante de todas as situações às quais a liga sobreviveu, este é só um desafio a mais para a liga continuar pelos próximos 100 anos.

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