segunda-feira, 8 de março de 2021

Por que não devemos parabenizar as mulheres pelo dia 8 de março

Sarah Fuller se tornou a primeira mulher a jogar na conferência SEC, do College Football (foto: Hunter Dyke/Getty Images)

Hoje é dia 8 de março, o Dia Internacional da Mulher. É uma data na qual é celebrada para reforçar a luta pela igualdade de gênero entre mulheres e homens. Oficializado em 1975 pela Organização das Nações Unidas (ONU), este dia é marcado por atos desde o início do século XX ao redor do mundo. E cabe reforçar que são reinvindicações importantes, e que devem ser reforçadas a cada ano por mais direitos para elas.

Os primeiros movimentos por igualdade de gênero foram registrados em 26 de fevereiro de 1909, em Nova York, nos Estados Unidos. Na ocasião, 15 mil mulheres marcharam nas ruas da cidade por melhores condições de trabalho, pois muitas delas chegavam a trabalhar 16 horas por dia e em seis dias da semana. Na Europa, em 1910, a alemã Clara Zetkin propôs a criação de uma jornada de manifestações durante uma reunião da Segunda Conferência Internacional das Mulheres Socialistas, sem ter uma data específica. Após este encontro, o primeiro dia oficial da mulher foi datado em 11 de março do ano seguinte, em 1911.

O uso do 8 de Março como data do Dia Internacional da Mulher começou ainda em 1917. Na Rússia, em 8 de março daquele ano, milhares de mulheres foram às ruas protestar contra a fome e contra a Primeira Guerra Mundial. Aquele movimento foi o início da Revolução Russa, que derrubou o regime dos czares para o surgimento da União Soviética. Anos depois, em 1975, a ONU definiu oficialmente a data, celebrada hoje em diversos países com protestos pela igualdade entre mulheres e homens.

Mais de 100 anos depois dos primeiros atos em favor dos direitos iguais para as mulheres, ainda é evidente que há muito trabalho para que esta igualdade seja efetiva. E isso se inclui no mundo dos esportes. Em 2019, as jogadoras da seleção de futebol dos Estados Unidos processaram a federação por discriminação de gênero. Em 2015, o time norte-americano venceu a Copa do Mundo Feminina, e recebeu como prêmio US$ 1,72 milhão, enquanto a seleção de futebol masculino recebeu US$ 5,4 milhões por sua participação até as oitavas de final da Copa do Mundo de 2014, no Brasil.

E quando falamos em desigualdade de gênero nos esportes, no futebol americano isso é ainda mais evidente. Enquanto a NFL é uma liga multibilionária nos Estados Unidos, e obviamente é a maior da modalidade, para o gênero feminino, não há uma competição que tenha a mesma visibilidade do que a da National Football League. A maior das ligas para mulheres em terras estadunidenses é a Women's Football Alliance, criada em 2009 e que para a edição de 2021 promete 66 times. A competição não é transmitida no Brasil, e é jogada em regras semelhantes às da NFL.

Porém, mundialmente, a liga feminina de futebol americano que ganhou notoriedade, inclusive chegando a ser exibida em solo brasileiro há alguns anos, é a Extreme Football League, antiga Legends Football League e que surgiu como Lingerie Football League, em 2009. Por mais que seu nome tenha mudado, a cultura da competição ainda é a mesma. Basicamente, em seus jogos, mulheres usando lingerie, e com o mínimo de proteção contra lesões após os tackles, jogam futebol americano. O objetivo do campeonato até pode ser o de definir uma equipe campeã, mas na prática, a exibição foca apenas nos corpos das atletas, servindo como um espetáculo de entretenimento barato, do nível daqueles antigos programas da TV aberta nos anos 90 que exibiam as mulheres de forma sexista, como aquele da "Musa da Camiseta Molhada", por exemplo.

Apesar deste péssimo exemplo, acredito na esperança de que a desigualdade de gênero no futebol americano seja reduzida. No caso da NFL, as mulheres já vêm ganhando espaço na comissão técnica de alguns times. A pioneira foi Jen Welter, que estava no corpo de treinadores do Arizona Cardinals de 2015, que foi finalista da NFC. Atualmente, há outras integrantes, como a assistente técnica de wide receivers do San Francisco 49ers, Katie Sowers – primeira a integrar um time participante do Super Bowl, em 2020; Lori Locust e Maral Javadifar, assistente técnica de linha defensiva e preparadora física, respectivamente, do Tampa Bay Buccaneers – pioneiras na comissão de um time campeão do Super Bowl, em 2021. Citamos como exemplo também Callie Brownson, que atuou como técnica interina de tight ends no Cleveland Browns em uma partida de 2020, e se destacou por seu trabalho, sendo mencionada no Hall da Fama da liga. E, no corpo de juízes, impossível não mencionar Sarah Thomas, a primeira árbitra de campo, que graças ao seu brilhante trabalho, esteve na equipe atuante no Super Bowl LV, em fevereiro deste ano. E fora da NFL, ainda tivemos a atleta Sarah Fuller, a primeira a jogar em um time da SEC, uma das principais conferências do futebol americano universitário. Ela atuou como kicker pela universidade de Vanderbilt.

Embora importantes, estes passos são apenas o começo na luta por direitos iguais entre mulheres e homens no futebol americano, esporte o qual cubro aqui neste site há quase cinco anos. Que em breve o público feminino tenha ainda mais espaço dentro da modalidade em campo, e não apenas fora dele. Que exemplos como de Sarah Thomas, Jen Welter e Sarah Fuller se multipliquem ainda mais. E que a luta de vocês, mulheres, por igualdade de gênero, seja ainda mais fortalecida.

Portanto, é válido que você, homem que está lendo este texto, não parabenize pelo Dia Internacional da Mulher. De nada adianta que elas recebam parabéns, flores e chocolates em uma data do ano, se durante todos os outros 364 dias elas ainda têm de enfrentar um mundo cheio de misoginia, sexismo, desigualdade e desrespeito. Principalmente no meio esportivo, onde elas têm sua competência questionada o tempo todo.

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