quarta-feira, 5 de maio de 2021

Editorial: Paulo Gustavo, a lenda do riso que teve sua vida ceifada pela pandemia

Comediante tinha 42 anos, e morreu em consequência da Covid-19 (foto: Daniela Ramiro/Estadão Conteúdo)

Paulo Gustavo foi um dos mais brilhantes comediantes brasileiros nos últimos anos, e seu nome estará para sempre eternizado no humor de nosso país. De texto rápido e com característica irreverente, conquistou o Brasil e o mundo com suas atuações. Inclusive, com o filme de maior arrecadação na história do cinema em nosso país: "Minha Mãe é uma Peça 3", com sua maior personagem, a Dona Hermínia. Infelizmente nos deixou nesta terça-feira, 4 de maio, sendo mais uma vítima fatal por consequências da Covid-19.

Quem acompanha a NFL há alguns anos deve lembrar que nas transmissões da ESPN frequentemente havia um jogador comparado com Paulo Gustavo por ser praticamente um sósia dele. É o quarterback Brian Hoyer, de passagens por New England Patriots, Houston Texans, Cleveland Browns e Indianapolis Colts, que atualmente está sem time. 

Mesmo de mundos tão diferentes, há três anos rolou uma improvável interação entre ambos. Às vésperas do Super Bowl LII, em 2018, Hoyer, que era o QB reserva do Patriots, foi entrevistado pela equipe brasileira da ESPN, que mostrou uma foto de Paulo Gustavo ao jogador. Ele enviou um recado ao comediante. "Oi Paulo! Só queria dizer que você é um cara muito bonito. Talvez a gente possa um dia tirar uma foto juntos. Será ótimo". E Paulo Gustavo o respondeu da forma que sempre soube fazer: com seu talentosíssimo bom humor.


"Oi Brian Hoyer, estou casado por agora, não vai rolar! Mas eu sou bem bonito mesmo, não desista!", disse Paulo Gustavo ao jogador. Só que infelizmente esse encontro não aconteceu.

Acho que mesmo que Paulo Gustavo não tivesse nenhuma relação com alguém da NFL, nem semelhança, eu falaria aqui sobre sua morte. Ele era amado pelos brasileiros. Tinha 42 anos. Era casado e com dois filhos, anunciados por ele e seu marido, o médico Thales Bretas, com muita alegria. Tinha uma vida inteira pela frente, e que foi ceifada por uma doença que matou 411.854 brasileiros, segundo o último balanço do consórcio de veículos de imprensa, divulgado ontem (4). Esse número terrível poderia ter sido evitado. A dor de inúmeras famílias poderiam ter sido evitadas. Enquanto em países como os Estados Unidos, pessoas com mais de 16 anos já estão sendo vacinadas, no Brasil as doses chegam aos poucos, para um ainda pequeno número de cidadãos, reflexo de uma política cruel que, aparentemente, tem o objetivo de matar o maior número possível de pessoas. Vale lembrar que em agosto, quando já tínhamos um número terrível, mas 75% menor que o atual de vidas perdidas, a oferta de 70 milhões de doses da vacina da Pfizer foi recusada por quem poderia amenizar a dor de mais brasileiros. Ao todo, foram 11 ofertas de vacinas ignoradas para os mais de 210 milhões que vivem aqui. Soma-se à recusa de imunizantes com um isolamento social praticamente inexistente, pessoas obrigadas a sair de casa para tentar encontrar uma renda básica para não passarem fome, gente sem coração que insiste em se aglomerar clandestinamente, e também com o excesso de notícias falsas em nome de um medicamento nada eficaz contra a Covid-19, que ainda é mencionado por certas autoridades.

Que os responsáveis por todas as vidas perdidas sejam punidos um dia. Que a família de Paulo Gustavo seja confortada neste momento, assim como as famílias de todos os mais de 411 mil brasileiros que não estão mais aqui por causa da pandemia. Reforçamos os nossos sentimentos aqui, para que jamais esqueçamos o terrível período de nossa história ao qual estamos passando. Um dia esse genocídio irá acabar. 

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