quinta-feira, 31 de agosto de 2017

#LTExplica o que permite à NFL a ser uma liga tão equilibrada




Este é o último episódio da série #LTExplica, que busca trazer explicações básicas sobre o futebol americano. Ela é voltada justamente para quem está chegando agora e quer conhecer, e se apaixonar por este esporte. Neste fechamento, falaremos sobre algumas medidas que fazem com que a NFL seja a liga mais equilibrada do mundo. E ao final do texto, você poderá conferir os demais links com a série.

Como dissemos no texto sobre a estrutura da NFL, a liga conta atualmente com 32 franquias, que disputam anualmente a competição. São sempre os mesmos times, sem um sistema de promoção ou rebaixamento como acontece no futebol. Na teoria, isso pode fazer com que um time que tenha sido o pior em uma temporada faça um ano melhor no ano seguinte.

E na prática, também. Com o auxílio de vários mecanismos que visam manter o equilíbrio na NFL, sim, isso é possível. Com uma competição mais acirrada, todos os times saem ganhando nas finanças (lembrando que as franquias são instituições privadas, que buscam o lucro). Vamos aos pontos.

Direitos de transmissão de TV iguais para todos

Os contratos das emissoras americanas com a NFL são absurdamente altos. Ninguém fala oficialmente em valores, mas todos os anos, alguns bilhões de dólares são dados por NBC, FOX, CBS e ESPN para a liga, para que possam transmitir os seus jogos. Além disso, a National Football League também recebe bons valores das emissoras do mundo inteiro retransmissoras do futebol americano, como faz a ESPN para o Brasil.

A NFL fica muito rica com estes contratos, e quem faz parte dela, também. O grande bolo das cotas de TV é dividido entre os 32 times - e de maneira igual para todos. Isso permite que todos possam crescer igualmente com suas estruturas, sendo cada equipe uma referência forte como marca e organização. Inclusive, entre as 50 equipes mais valiosas do mundo, segundo a revista Forbes, apenas três da NFL estão fora desta lista.

Com este dinheiro vindo das emissoras, cada franquia pode investir melhor em seus centros de treinamento, melhorar ou até comprar um novo estádio, e também contratar profissionais técnicos oferecendo bons valores contratuais. Quanto aos jogadores, existe o teto salarial, o que evita que uma  equipe gaste muito mais que um time adversário por temporada.

Teto salarial - limite de gastos por cada equipe

Diferente do que acontece no futebol, onde um time rico pode contratar um jogador por valores astronômicos e deixar os rivais mais fracos, na NFL, existe um limite de gastos. É o Salary Cap, ou teto salarial, como preferirem. Por temporada, todos os times não podem gastar mais do que aproximadamente US$ 165 milhões em salários de todo o elenco. Os jogadores não precisam receber salários exatamente iguais, mas nenhuma equipe poderá ultrapassar o Salary Cap.

Com isso, tanto o Dallas Cowboys (time mais valioso do mundo) quanto o Buffalo Bills (um dos menos ricos da NFL) terão a mesma quantia para se gastar por ano com os pagamentos dos jogadores. Isso já permite que não exista um elenco muito caro com relação aos demais rivais, evitando o que ocorre no futebol da Espanha, por exemplo, em que Barcelona e Real Madrid têm elencos absurdamente mais caros (e de melhor qualidade) que todos os demais participantes do Campeonato Espanhol.

Matthew Stafford é o atleta com o maior salário atual da NFL
Cada time adota o seu sistema de controle de gastos para os salários, mas normalmente os maiores valores vão para os atletas de mais importância, como o Detroit Lions fez recentemente, renovando o contrato do quarterback Matthew Stafford, que receberá uma média de US$ 27 milhões por temporada pelos próximos cinco anos. Mas para se ter um alto salário, é preciso ter um ótimo rendimento, e, principalmente, estar saudável. Jogadores com um contrato alto e que não jogarem bem podem ser cortados ou trocados para uma outra franquia.

Um grande exemplo recente foi quando o Houston Texans contratou o quarterback Brock Osweiller em 2016, por incríveis US$ 72 milhões por quatro anos. Foi um fiasco total na temporada passada, e em março deste ano, o Texans o trocou para o Cleveland Browns, que assumiu seu contrato e, junto com o QB, recebeu também uma escolha de segunda rodada do próximo Draft, entregando para Houston uma escolha de quarta rodada no Draft de 2017. Osweiller não foi bem na pré-temporada de Cleveland e não será o titular por lá, e deve ser trocado ou cortado do elenco.

E aqui tem algo a se acrescentar. Não existe um passe a ser pago por um time caso queira contratar alguém que está em um outro, nem multa rescisória, como se vê muito no futebol. Se o dono de uma franquia pretende ter alguém que joga num adversário, é preciso se fazer uma troca. Pode ser uma troca entre atletas, ou então entre escolhas de Draft, para que todas as partes tentem sair ganhando com a negociação. No caso de uma troca entre jogadores, no momento que este se transfere para outra equipe, é sua nova equipe quem assume o restante de seu atual contrato.

Outra forma de se contratar jogadores, é ir atrás dos chamados "free agents" (ou agentes livres, em português), que são atletas sem contrato e, consequentemente, desempregados. Eles podem estar nestas condições se são cortados de uma equipe, ou então se o contrato atual se encerra e não há um interesse do jogador e da franquia de estabelecer uma renovação.

E também existe um terceiro método, que é justamente o que também permite à NFL a manter o seu equilíbrio, o Draft.

Draft - onde o pior de hoje pode ser o melhor de amanhã

Em linhas gerais, o Draft é o grande recrutamento da NFL, com atletas que jogaram o futebol americano universitário tentam uma chance como profissionais. Todos os anos, mais de 250 atletas são selecionados pelas equipes da liga, e o sistema de seleção também permite o equilíbrio.

São sete rodadas para cada equipe escolher. Um atleta é selecionado por vez. Quem escolhe primeiro é o time de pior campanha no ano anterior, e assim sucessivamente. Isso permite que o pior time da temporada passada tenha a possibilidade de escolher o melhor jogador universitário disponível, para que, a longo prazo, esta equipe possa ter um rendimento melhor e assim ser mais competitiva.

Sobre como isso dá certo, temos um exemplo recente vindo de 2011. O quarterback Cam Newton e o linebacker Von Miller foram os primeiros jogadores escolhidos naquele Draft, por Carolina Panthers e Denver Broncos (os piores times de 2010).  E na temporada 2015, estes dois jogadores foram ao Super Bowl por suas respectivas equipes.

Uma liga equilibrada que dá certo

Oferecer cotas iguais de TV, estabelecer um limite de gastos com salários e o recrutamento feito pelo Draft são o que possibilitam a NFL ser a liga mais disputada em todo o mundo. São oito campeões diferentes nos últimos dez anos, além de 24 equipes diferentes disputando pelo menos uma partida de playoff desde 2013. São estes os motivos que fazem a National Football League ser a competição anual mais acirrada e imprevisível de todos os esportes coletivos.

Esta foi a série #LTExplica, que encerramos neste texto. Abaixo, você confere as demais publicações feitas ao longo deste mês.


#LTExplica regras básicas do futebol americano

#LTExplica as posições do futebol americano

#LTExplica a estrutura da NFL

#LTExplica as principais faltas vistas em campo

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