sábado, 7 de setembro de 2024

NFL no Brasil: pelo jogo histórico, por quem estava no estádio, e por todos nós, fãs do esporte

Mais de 47 mil pessoas acompanharam o primeiro jogo da NFL no Brasil

A noite desta sexta-feira (6) foi histórica! Pela primeira vez, o Brasil foi palco de um jogo da NFL, e logo em uma partida marcada por muitos lances memoráveis, com a presença de dois grandes times. Em campo, é fato, o Philadelphia Eagles venceu o Green Bay Packers por 34 a 29, mas para nós brasileiros, o placar pouco importou. O jogo disputado na Neo Química Arena, na casa do Corinthians, em São Paulo, foi memorável, não só para os 47 mil brasileiros que estavam lá no estádio, mas para os milhões de fãs da liga em nossas terras, sendo a consolidação de que, sim, o Brasil mereceu receber um jogo da National Football League. 

Este jogo, realizado como uma partida de horário nobre para os Estados Unidos, foi resultado de um trabalho de décadas na conquista de fãs da liga pelo Brasil. Até chegarmos ao Eagles e Packers na capital paulista, passamos pelas transmissões de VTs na extinta TV Tupi, nos anos 1960; pelo início da popularização da liga no Show do Esporte, pela Band, entre os anos 1980 e 1990, em jogos trazidos pelo saudoso Luciano do Valle; pelo início da era da NFL pela ESPN, ainda nos anos 1990, com transmissões ininterruptas desde então; pelas exibições em determinados períodos pelos canais Sportv, FX, Bandsports e Esporte Interativo; pela expansão do assunto nas redes sociais até a sua democratização de acesso, seja pela TV por assinatura, na ESPN, ou via streaming, pelo NFL Game Pass, ou até mesmo por transmissões abertas, como foi ontem pela RedeTV! e Cazé TV. 

Defensor Jaire Alexander entrou em campo carregando uma bandeira do Brasil


Isso, claro, sem esquecer dos inúmeros produtores de conteúdo individuais, como aqui mesmo, no Left Tackle Brasil, existente desde 2016. Por todas estas pessoas, além dos torcedores comuns que passaram a amar a NFL, este evento valeu a pena. Vale lembrar que o sucesso da liga no patamar atual foi alcançado há poucos anos, desde a década passada. 

Torcida faz a festa

Nós brasileiros temos um jeito único de torcer, para qualquer modalidade, basta lembrar como foi a participação da nossa torcida na Copa do Mundo de 2014 e nos Jogos Olímpicos de 2016. Na NFL, não seria diferente. Já deu para perceber uma empolgação diferente do público no momento do Hino Nacional, cantado por Luísa Sonza, em que os torcedores cantaram junto com ela, se tornando um lindo coral.

Durante o jogo, as vibrações da torcida foram intensas do início ao fim, com cada jogada linda na partida, mas não somente nestes momentos. Basta lembrar que, quando o que seria o primeiro touchdown do jogo, pelo Green Bay Packers, foi anulado por múltiplas faltas, o público mandou o clássico "hei, juiz, vai tomar no c...". Por conta do jogo ser no estádio do Corinthians, muitos torcedores gritaram "Timão ê ô, Timão ê ô". 

O ápice de tudo foi no último quarto, quando o DJ do estádio tocou "Evidências", na voz de Chitãozinho & Xororó, fazendo o público cantar até mesmo à capela, quando o jogo já estava em andamento novamente.

Misto de emoções

Seja como torcedor da NFL, ou como produtor de conteúdo da liga (embora com menor volume recente de publicações), ontem foi um dia muito especial para mim. Antes do jogo, confesso que estava um pouco triste de não poder viver a sensação de estar no estádio. Mas, ontem mesmo percebi que, em 2024, não seria possível, por diversos aspectos. A tristeza se transformou em alegria no momento em que vi a Neo Química Arena lotada, e me emocionei na hora do Hino Nacional. 

Estreante pelo Eagles, Saquon Barkley foi o grande destaque da partida


Foi nesta hora em que, minhas memórias foram lá atrás, para o ano de 2011, em que comecei a ver a NFL. Naquela época, a sensação era de estar praticamente sozinho no mundo vendo os jogos daquele esporte diferente do que estamos acostumados no Brasil. O início da minha vida no futebol americano foi do acaso, ao ver algumas pessoas no finado Twitter (ou X, ou agora completamente esvaziado em nossas terras) comentando sobre os jogos da liga. Quando trazia o assunto para rodas de conversas pessoais, ninguém sabia do que eu estava falando. 

Lembrei também do momento em que a liga foi se tornando mais popular, com o aumento no número de transmissões de jogos, além da democratização da TV por assinatura e de serviços de streaming, sem contar com a possibilidade que esse esporte me deu, participando de entrevistas na Rádio Guaíba, na Rádio Gaúcha, e em diversos sites e blogs independentes, até a criação do Left Tackle Brasil. Lembrei até mesmo do momento em que mostrei a tela de um jogo da NFL para os meus pais e disse: "estão vendo isso aqui? Esse esporte está me levando para incríveis oportunidades". 

NFL, por favor, volte para o Brasil

Ontem foi especial, por mim, por você que está lendo este texto, por todos os que estavam no estádio, e por todos os que estavam vendo a partida pela TV, mesmo quando, na concorrência, havia um jogo da Seleção Brasileira de Futebol, pelas Eliminatórias da Copa do Mundo de 2026.  Foi por todos nós! Inclusive, oito medalhistas do Brasil nos Jogos Olímpicos de Paris 2024 também estavam presentes na arena: Rebeca Andrade (ginástica artística), Beatriz Souza (judô), Duda (vôlei de praia), Rayssa Leal (skate), Tamires, Gabi Portilho, Jhenifer e Yasmin (todas do futebol). 

Cara ou coroa teve a participação de oito atletas medalhistas olímpicas

Pode não ter sido um dia perfeito. Sofremos com uma xenofobia desproporcional de alguns estadunidenses, tanto entre os que jogaram em São Paulo, quanto pelo autointitulado "rei" que não sabe nem onde o Brasil fica no mapa mundi. O show da Anitta também pode estar incluso entre o que não foi perfeito – adoro ela, mas sua apresentação deixou a desejar. Mas o fato é que o legado positivo foi muito maior.

Que a liga não se esqueça da festa incrível que foi a realização de um jogo da NFL no Brasil. Os organizadores estão com planos de tornar a competição mais vista fora dos Estados Unidos. Que a épica batalha entre Eagles e Packers possa ser dita no futuro como o primeiro jogo da liga em nossas terras, assim como já acontece com os tradicionais jogos de Londres, no Reino Unido, que ocorrem desde 2006. Obrigado, NFL, por acreditar em nosso país!


segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

Chiefs desfila na prorrogação, vence Super Bowl LVIII, e amplia sua dinastia na NFL

Patrick Mahomes se consolida como um dos maiores jogadores da NFL na história


A era vitoriosa do Kansas City Chiefs na NFL ganhou mais um episódio na noite deste domingo (12) de Carnaval. A equipe de Patrick Mahomes venceu o Super Bowl LVIII, conquistando o segundo título consecutivo, sendo o terceiro nas últimas cinco temporadas. A dinastia, que já tinha sido decretada aqui neste site em 2023, continua viva. Afinal de contas, estamos falando de um elenco sólido, que se tornou potência na NFL, e que será lembrado por décadas.

Na primeira decisão da NFL realizada em Las Vegas, o Chiefs venceu o San Francisco 49ers por 25 a 22, em um confronto emocionante até o último lance. Foi um duelo marcado por uma vantagem expressiva do 49ers até o intervalo. Mas, assim como em 2020, faltou para o time de San Francisco assegurar a liderança no placar. O quarterback Patrick Mahomes passou a se destacar, e teve mais uma atuação memorável para deixar o duelo equilibrado, com direito a empate nos segundos finais, e vitória na prorrogação, de virada, após mais de quatro horas e meia de disputa.

Graças a atuação heroica, Patrick Mahomes foi novamente eleito o MVP da partida, ao passar para 333 jardas, dois touchdowns e uma interceptação. Com o título de 2024, Kansas City conquista o bicampeonato da liga pela primeira vez em sua história, sob o comando do técnico Andy Reid, e repetindo os dois títulos consecutivos do New England Patriots em 2004 e 2005. Ao longo da história, agora, o Chiefs possui quatro títulos, após as vitórias em 1970, 2020, 2023 e 2024.

Derrotado, o 49ers segue amargurando um longo jejum sem títulos, desde 1995. O técnico Kyle Shanahan também já tem a inglória marca de ter ido a três Super Bowls (dois como técnico principal e um como coordenador ofensivo) e perder todos, mesmo vencendo em algum momento por uma vantagem de, pelo menos, dez pontos.

49ers domina as ações no primeiro tempo

Apenas quatro anos depois, quis o destino que Chiefs e 49ers se enfrentassem novamente em um Super Bowl. E, desde o início, o duelo prometeu intensidade. Na primeira campanha de San Francisco, o ataque liderado pelo quarterback Brock Purdy e pelo running back Christian McCaffrey avançou rápido para o campo de ataque. Mas quem pensou que ali sairia o primeiro touchdown do jogo, foi surpreendido com o fumble sofrido por McCaffrey. Embora houvesse o turnover, o Chiefs não conseguiu capitalizar, pois Patrick Mahomes estava bem marcado no início da partida. 

O primeiro quarto terminou 0 a 0, com o 49ers novamente no ataque. Deebo Samuel quase anotou um touchdown, mas a campanha terminou em um longo field goal, anotado pelo kicker Jake Moody.

Com o placar aberto, o Chiefs teve o seu primeiro bom momento na partida, com uma campanha rápida, mas muito efetiva. Mahomes tinha lançado um longo passe para Mecole Hardman, e a equipe de Kansas City chegava na linha de nove jardas. Porém, o touchdown não veio, pois o running back Isiah Pacheco sofreu fumble, e o 49ers voltou a ter o controle da bola.

Apesar do turnover, o 49ers não conseguiu aproveitar o momento para ampliar, e logo devolveu a bola ao Chiefs, que teve mais uma campanha ineficaz. Com a bola de volta a San Francisco, tivemos a primeira grande jogada da noite, em um lance que seria eternamente lembrado neste Super Bowl LVIII se o 49ers vencesse. 

Lance histórico

Na linha de 21 jardas, Purdy recebeu o snap, e entregou a bola para o wide receiver Jauan Jennings, que fez um incrível passe para Christian McCaffrey anotar o primeiro touchdown da partida.

Estava 10 a 0, o intervalo da partida se aproximava. A ótima marcação defensiva do 49ers naquele momento anulava o Chiefs de todas as formas. O clima em Kansas City estava tenso. O tight end Travis Kelce estava apagado, com uma única recepção para apenas uma jarda. Furioso, Kelce chegou a ter uma discussão com o técnico Andy Reid, e empurrou o treinador de 70 anos.

O Chiefs se reencontrou no jogo no final do segundo quarto. Com Mahomes fazendo grandes passes, o momento parecia de que Kansas City finalmente ia engrenar, mas a campanha terminou em field goal do kicker Harrison Buttker. O jogo foi para o intervalo com o placar em 10 a 3 para San Francisco.

49ers erra, e Chiefs entra no jogo de vez

Após o intervalo, com direito ao Halftime Show do rapper Usher, com participação de Alicia Keys e outros artistas, o jogo recomeçou com mais dificuldades do Chiefs. Mahomes foi interceptado logo no reinício da partida, mas o turnover não foi aproveitado pelo 49ers. Na sequência, o Chiefs voltou a pontuar, com outro field goal de Buttker.

Ao longo da história dos Super Bowls, já ficou claro que a receita para as viradas começa da seguinte forma: o time que está ganhando não aproveita as falhas dos adversários para acabar com a partida de vez. Parafraseando o ex-jogador e comentarista Júnior, "quando você enfia a faca, você roda, pra não deixar sobreviver o adversário, porque se ele sobreviver, ele vai te matar". E foi assim que o Chiefs começou a vencer o jogo.



Após não saber matar o jogo, o 49ers começou a sofrer em campo da pior forma possível. Um ponto-chave da partida foi um punt chutado pelo Chiefs se transformou em fumble do 49ers, após Darrell Luter Jr perder o controle da bola.  Com Kansas City recuperando a posse, no lance seguinte, Mahomes fez um incrível passe para Marquez Valdes-Scantling anotar o touchdown. Era a primeira vez que o Chiefs liderava no placar.

Último quarto dramático

Com o 49ers perdendo o jogo pela primeira vez, o time passou a se recuperar com uma campanha longa, que terminou em touchdown, em passe de Purdy para Jauan Jennings. Mas a virada terminou frustrante, pois o extra point foi bloqueado. Isso deu outra cara para a partida.

Daquele ponto em diante, o Chiefs precisava novamente de um field goal para empatar. A campanha foi longa, mas a defesa do 49ers evitou que se transformasse em touchdown. Coube a Harrison Buttker empatar o jogo novamente, em 16 a 16. Faltavam 5 minutos e 43 segundos para o jogo terminar.

A bola voltou ao San Francisco 49ers que novamente não soube acabar com o confronto. O time chegou até a área de field goal quando faltavam dois minutos. Porém, a jogada era uma terceira descida, e a defesa do Chiefs bloqueou um crucial passe de Brock Purdy. Coube a Jake Moody voltar a colocar o time na liderança. 

Era tempo suficiente para o Chiefs tentar a virada. No segundo tempo, os passes de Mahomes para Travis Kelce enfim começaram a funcionar. Mesmo em área de field goal nos segundos finais, era nítido que o plano era anotar um touchdown e vencer no tempo regulamentar. Porém, a defesa de San Francisco conseguiu evitar naquele momento, em dois passes desviados. Com o field goal de Harrison Buttker, o jogo terminou empatado em 19 a 19, e foi para a prorrogação.

Prorrogação histórica

Foi a segunda vez na história que o Super Bowl foi para a prorrogação. Com o final dramático, havia a expectativa para um tempo extra longo. E assim foi.

A primeira posse de bola foi do 49ers, com uma campanha de mais de sete minutos. Os avanços foram em jogadas curtas. A equipe de San Francisco se aproximou da endzone, mas a defesa do Chiefs impediu o touchdown. Coube a Jake Moody liderar novamente no placar com um field goal.

Na sequência, veio a posse derradeira do Chiefs. Cansada, a defesa do 49ers conseguia frear jogadas explosivas de Mahomes, mas aos poucos ia cedendo as primeiras descidas. Com o relógio de aproximando do final do primeiro período da prorrogação, houve quem se preocupasse que o Chiefs não estava de olho no relógio e que poderia perder. Porém, em Playoffs, a prorrogação só acaba com o jogo desempatado após os dois times terem uma posse de bola. 

Após um passe decisivo para Travis Kelce, o Chiefs estava em posição tranquila para empatar o jogo com um field goal, mas o touchdown daria o título. E assim ele veio, com um lançamento curto de Mahomes para um herói improvável: Mecole Hardman, que recebeu o passe, e estava livre para correr para a endzone, para o título, e para a consagração da dinastia.

O Chiefs da década atual



Futuramente, nos lembraremos do Chiefs de Mahomes, Kelce e Andy Reid da mesma forma que do New England Patriots de Tom Brady e Bill Bellichick, do San Francisco 49ers de Joe Montana, do Dallas Cowboys de Troy Aikman, do Green Bay Packers de Vince Lombardi, entre outras gerações vencedoras que se superaram para além de uma única temporada com título.

A conquista é fruto de um trabalho muito sólido realizado, que vem desde a chegada de Patrick Mahomes ao Chiefs em 2017. E por falar no quarterback, não é mais especulação: ele já entra no seleto grupo dos maiores atletas da história da NFL. Com 28 anos, três títulos de Super Bowl e apenas três derrotas na carreira em Playoffs, se nenhuma grande lesão o atingir, falaremos deste excepcional quarterback por muito mais vezes em jogos históricos na National Football League.