quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

O meu maior ídolo



Tom Brady não foi meu ídolo de infância. Na verdade, nem ele e nem ninguém do futebol americano. Nasci nos anos 90, e meus primeiros anos foram sem a presença da bola oval. Na verdade, a maior parte das pessoas que hoje vê a NFL começou a acompanhar a liga a cerca de dez anos, com a popularização da TV por assinatura e a disseminação da liga pela internet. Os meus ídolos esportivos se forjaram em outras modalidades, principalmente no futebol e na Fórmula 1.

Ouvi falar no jogador pela primeira vez em 2008, quando no acaso de um tedioso domingo de Carnaval, sintonizei em um canal aberto que exibia o Super Bowl XLII em VT. Descobri naquele dia que ele já tinha o famoso crédito de "namorado da Gisele Bündchen". Mas aquela era uma época sem redes sociais, e não entendi nada sobre o jogo.  Só entendi a magia do que aconteceu naquela partida muitos anos mais tarde.

Entre este Super Bowl em que o Patriots saiu derrotado após uma temporada invicta, e meu batismo oficial na NFL (sim, a liga é como uma religião para mim), levou mais de três anos e meio. Neste período, ouvi falar apenas mais uma vez em Brady quando ele esteve entre nós, colocando no mapa a gloriosa cidade de Horizontina, no interior do Rio Grande do Sul, para conhecer os parentes de Gisele. Foi a vez em que estive mais perto do quarterback do New England Patriots, mesmo estando a 486 km distante.

Quando comecei a ver a NFL de fato, em 2011, demorei para ter uma torcida por uma equipe. Na verdade, esperei sair os dois postulantes ao Super Bowl XLVI. Ao pesquisar sobre o New England Patriots e Tom Brady, não tinha como não torcer por aquele time e por aquele jogador.

O Patriots nunca tinha sido campeão da liga - foi a dois Super Bowls em 1986 e 1997, mas foi duramente derrotado. Brady foi desprezado no Draft de 2000, escolhido apenas na sexta rodada por New England, na posição 199. Ninguém achava que um cara lá desta posição se tornaria o maior atleta de todos os tempos no futebol americano. Passou todo o ano de calouro como reserva. Na semana 2 de 2001, Drew Bledsoe se machucou, dando lugar a Brady, que nunca mais perdeu a posição de QB titular.

Tom Brady é a maior prova de uma pessoa que não desiste nunca, e foi isso o que me fez ser torcedor por seu sucesso e pelo time que defende. Ele aproveitou aquela chance lá no fundo do Draft, e o acaso da lesão do então titular, para provar que tinha talento. Em seu primeiro ano como titular, um Super Bowl. E logo na sequência, mais dois títulos. E mesmo assim, ele seguiu provando que a cada jogo poderia fazer mais, como se cada anel conquistado ainda não fosse o suficiente, em que ele queria mostrar que poderia ser ainda melhor do que já era. Veio a temporada de 2007, aquela que foi quase perfeita, e seria a sua consagração como uma lenda - até vir aquela derrota para o New York Giants no final do jogo.

Poderia ser o declínio de Brady, porque em 2008 o QB perdeu a temporada inteira. Mas seu retorno em 2009 foi triunfante, se tornando o MVP da temporada. Em 2011, quando o atleta já não era mais um jovem, mais uma ida ao Super Bowl - aquela em que definiu minha torcida pelo Patriots. De novo veio a derrota, de novo para o Giants. Continuei como fã da equipe porque no esporte há vitórias e derrotas, e que uma hora um triunfo poderia acontecer. Ali comecei a entender por que havia um certo ódio contra Brady.

É compreensível que um jogador tão incrível também seja odiado. Os melhores no que fazem são tão amados quanto odiados. É assim com Brady e o Patriots. Não tem um time na liga que não tenha uma história de como foi castigado pelo quarterback e sua variada gama de jogadas lideradas por um gênio chamado Bill Bellichick.

Foram mais títulos de divisão, mais vitórias nos playoffs, mais idas às finais de conferência, mas as derrotas ainda questionavam seu talento.No início da temporada de 2014, foram muitos os que disseram "aposenta, Brady", diante de uma péssima atuação em um Monday Night Football contra o Kansas City Chiefs, ainda na semana 4. Nunca duvidei de sua capacidade, mesmo quando a idade já poderia pesar contra seu desempenho. Aquela derrota foi o motor de arranque para que ele se superasse ainda mais, e seguisse provando que é bom sim e é uma lenda na NFL. Acabou a temporada como campeão do Super Bowl, e MVP da decisão, de novo.

Só que houve uma pedra neste caminho, o famoso Deflategate. Não vou entrar no mérito da punição, mas a genialidade de Brady foi duramente contestada. Seria injusto colocar no ralo uma carreira tão brilhante por causa daquele episódio. A suspensão veio, mas só foi aplicada nesta temporada 2016.

Brady não é brasileiro, mas também não desiste nunca - talvez aprendeu isso com Gisele. Jamais saberemos. Com quatro títulos de Super Bowl, grana, muita grana, esposa e família perfeitas, ele poderia dizer "não quero mais isso aqui", e largar tudo. Nós torcedores iríamos entender. Mas não, na semana 5 de 2016, ele voltou a usar a camisa 12, e voltou a jogar, para provar que é uma lenda.

O Patriots chegou ao Super Bowl, o sétimo na carreira de Brady. Como não dizer que o cara é um dos maiores da história, se ele próprio quebrou o recorde individual de idas à decisão? Só que o Atlanta Falcons tinha um ataque poderoso, e a defesa castigou o QB. Aquela interceptação retornada para touchdown foi cruel, mas foi a prova de que lendas também erram. Como torcedor do New England Patriots, tava sendo duro ver aquele atropelo. A única vez que questionei sua capacidade foi nesta jogada, porque parecia que ali tudo estava acabado, e mais um vice-campeonato chegaria.

Mais uma vez, Brady provou que poderia se superar. 25 pontos seguidos, dois passes para touchdown, recorde de passes completos, de jardas, de vitórias (208 na carreira), de títulos. Ele não se importa com esses recordes. Só pensava em vencer, pois esta é sua motivação: vencer o próximo jogo. E venceu, de novo, pela quinta vez. Por mais que neste Super Bowl LI, Brady tenha se consagrado como o melhor quarterback de todos os tempos, já dá para ver que ele não vai parar agora.

Ninguém se superou tantas vezes como ele. Brady ainda tem contrato até 2019. Jogando em alto nível, duvido muito que pare antes disso. Talvez um dia alguém consiga as mesmas façanhas que Brady um dia fez, mas é impossível não aplaudir este cara. Tom Brady não foi meu ídolo de infância, mas sem dúvidas, é o meu maior ídolo esportivo de todos. É o maior jogador de futebol americano da história.

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