Mais de 47 mil pessoas acompanharam o primeiro jogo da NFL no Brasil |
A noite desta sexta-feira (6) foi histórica! Pela primeira vez, o Brasil foi palco de um jogo da NFL, e logo em uma partida marcada por muitos lances memoráveis, com a presença de dois grandes times. Em campo, é fato, o Philadelphia Eagles venceu o Green Bay Packers por 34 a 29, mas para nós brasileiros, o placar pouco importou. O jogo disputado na Neo Química Arena, na casa do Corinthians, em São Paulo, foi memorável, não só para os 47 mil brasileiros que estavam lá no estádio, mas para os milhões de fãs da liga em nossas terras, sendo a consolidação de que, sim, o Brasil mereceu receber um jogo da National Football League.
Este jogo, realizado como uma partida de horário nobre para os Estados Unidos, foi resultado de um trabalho de décadas na conquista de fãs da liga pelo Brasil. Até chegarmos ao Eagles e Packers na capital paulista, passamos pelas transmissões de VTs na extinta TV Tupi, nos anos 1960; pelo início da popularização da liga no Show do Esporte, pela Band, entre os anos 1980 e 1990, em jogos trazidos pelo saudoso Luciano do Valle; pelo início da era da NFL pela ESPN, ainda nos anos 1990, com transmissões ininterruptas desde então; pelas exibições em determinados períodos pelos canais Sportv, FX, Bandsports e Esporte Interativo; pela expansão do assunto nas redes sociais até a sua democratização de acesso, seja pela TV por assinatura, na ESPN, ou via streaming, pelo NFL Game Pass, ou até mesmo por transmissões abertas, como foi ontem pela RedeTV! e Cazé TV.
Defensor Jaire Alexander entrou em campo carregando uma bandeira do Brasil |
Isso, claro, sem esquecer dos inúmeros produtores de conteúdo individuais, como aqui mesmo, no Left Tackle Brasil, existente desde 2016. Por todas estas pessoas, além dos torcedores comuns que passaram a amar a NFL, este evento valeu a pena. Vale lembrar que o sucesso da liga no patamar atual foi alcançado há poucos anos, desde a década passada.
Torcida faz a festa
Nós brasileiros temos um jeito único de torcer, para qualquer modalidade, basta lembrar como foi a participação da nossa torcida na Copa do Mundo de 2014 e nos Jogos Olímpicos de 2016. Na NFL, não seria diferente. Já deu para perceber uma empolgação diferente do público no momento do Hino Nacional, cantado por Luísa Sonza, em que os torcedores cantaram junto com ela, se tornando um lindo coral.
Durante o jogo, as vibrações da torcida foram intensas do início ao fim, com cada jogada linda na partida, mas não somente nestes momentos. Basta lembrar que, quando o que seria o primeiro touchdown do jogo, pelo Green Bay Packers, foi anulado por múltiplas faltas, o público mandou o clássico "hei, juiz, vai tomar no c...". Por conta do jogo ser no estádio do Corinthians, muitos torcedores gritaram "Timão ê ô, Timão ê ô".
O ápice de tudo foi no último quarto, quando o DJ do estádio tocou "Evidências", na voz de Chitãozinho & Xororó, fazendo o público cantar até mesmo à capela, quando o jogo já estava em andamento novamente.
Misto de emoções
Seja como torcedor da NFL, ou como produtor de conteúdo da liga (embora com menor volume recente de publicações), ontem foi um dia muito especial para mim. Antes do jogo, confesso que estava um pouco triste de não poder viver a sensação de estar no estádio. Mas, ontem mesmo percebi que, em 2024, não seria possível, por diversos aspectos. A tristeza se transformou em alegria no momento em que vi a Neo Química Arena lotada, e me emocionei na hora do Hino Nacional.
Estreante pelo Eagles, Saquon Barkley foi o grande destaque da partida |
Foi nesta hora em que, minhas memórias foram lá atrás, para o ano de 2011, em que comecei a ver a NFL. Naquela época, a sensação era de estar praticamente sozinho no mundo vendo os jogos daquele esporte diferente do que estamos acostumados no Brasil. O início da minha vida no futebol americano foi do acaso, ao ver algumas pessoas no finado Twitter (ou X, ou agora completamente esvaziado em nossas terras) comentando sobre os jogos da liga. Quando trazia o assunto para rodas de conversas pessoais, ninguém sabia do que eu estava falando.
Lembrei também do momento em que a liga foi se tornando mais popular, com o aumento no número de transmissões de jogos, além da democratização da TV por assinatura e de serviços de streaming, sem contar com a possibilidade que esse esporte me deu, participando de entrevistas na Rádio Guaíba, na Rádio Gaúcha, e em diversos sites e blogs independentes, até a criação do Left Tackle Brasil. Lembrei até mesmo do momento em que mostrei a tela de um jogo da NFL para os meus pais e disse: "estão vendo isso aqui? Esse esporte está me levando para incríveis oportunidades".
NFL, por favor, volte para o Brasil
Ontem foi especial, por mim, por você que está lendo este texto, por todos os que estavam no estádio, e por todos os que estavam vendo a partida pela TV, mesmo quando, na concorrência, havia um jogo da Seleção Brasileira de Futebol, pelas Eliminatórias da Copa do Mundo de 2026. Foi por todos nós! Inclusive, oito medalhistas do Brasil nos Jogos Olímpicos de Paris 2024 também estavam presentes na arena: Rebeca Andrade (ginástica artística), Beatriz Souza (judô), Duda (vôlei de praia), Rayssa Leal (skate), Tamires, Gabi Portilho, Jhenifer e Yasmin (todas do futebol).
Cara ou coroa teve a participação de oito atletas medalhistas olímpicas |
Pode não ter sido um dia perfeito. Sofremos com uma xenofobia desproporcional de alguns estadunidenses, tanto entre os que jogaram em São Paulo, quanto pelo autointitulado "rei" que não sabe nem onde o Brasil fica no mapa mundi. O show da Anitta também pode estar incluso entre o que não foi perfeito – adoro ela, mas sua apresentação deixou a desejar. Mas o fato é que o legado positivo foi muito maior.
Que a liga não se esqueça da festa incrível que foi a realização de um jogo da NFL no Brasil. Os organizadores estão com planos de tornar a competição mais vista fora dos Estados Unidos. Que a épica batalha entre Eagles e Packers possa ser dita no futuro como o primeiro jogo da liga em nossas terras, assim como já acontece com os tradicionais jogos de Londres, no Reino Unido, que ocorrem desde 2006. Obrigado, NFL, por acreditar em nosso país!